Irmão João Bretas, do Capítulo Obreiros do Século XXI, aborda sobre o tema: A arte de entender

A ARTE DE ENTENDER

         Alguma vez você já se pegou lendo um livro da faculdade, pois tinha que estudar para uma prova muito importante, mas sempre que lia um parágrafo, percebia que não tinha absorvido absolutamente nada? Pois é, esse é um dos momentos em que nós percebemos a importância da compreensão.

        Tenho certeza que as mães de todos diziam a mesma coisa: “Existe um motivo pra você ter dois ouvidos e uma boca”. Realmente é fato que, em pouca idade, ouvir não é uma tarefa muito mais prazerosa do que falar. Na Ordem DeMolay todos os membros ativos são, de certa forma, apenas púberes. A situação relatada no primeiro parágrafo é extremamente frequente não só para ler livros, mas também para prestar atenção nas aulas dos professores ou mesmo para se manter atento a todos os assuntos de uma reunião demorada. Talvez toda essa explosão de hormônios aliada a um cérebro não inteiramente formado (o córtex pré-frontal, que tem papel fundamental na atenção ainda é precário, se comparado a um indivíduo com mais de 21 anos de idade) são inimigos da compreensão mútua.

        Comunicação é algo estruturalmente muito simples: é um emissor, uma mensagem e um interlocutor. Em teoria, de fato, não é nenhum bicho de sete cabeças, mas as ferramentas necessárias para emitir e receber uma mensagem, essas sim são dificílimas. Um emissor precisa de uma boa dose de empatia, precisa usar cuidadosamente sua mensagem, para que ela trabalhe para ele. Uma mensagem preparada com as palavras mais belas que nossa língua pode nos proporcionar feita para uma pessoa que carece da instrução formal que o emissor recebeu, é uma mensagem sem empatia feita para ninguém. Uma mensagem feita com toda a boa vontade e empatia quase divina para um interlocutor desinteressado, é como levar um cego para assistir o mais belo filme mudo já produzido. Há momentos, há lugares e há meios para tudo.

       Temos duas áreas no cérebro feitas primordialmente para permitir que nos comuniquemos uns com os outros: uma área especializada em exprimir mensagens (área de Broca), e outra especializada em compreender linguagem (área de Wernicke), ambas no lado esquerdo do córtex cerebral. Somente os seres humanos têm essas estruturas. Somos o homo sapiens sapiens – o homem que SABE que SABE. Uma criança de 3 anos é mais versátil em se comunicar do que o gorila mais comunicativo que já existiu, e mesmo assim não damos o devido valor que a comunicação merece.

     Nossas reuniões e nossa ritualística são feitas dentro das bases mais democráticas possíveis: todos são ouvidos e todos podem falar, esse é um privilégio que todos nós usufruímos a partir do momento que prestamos nosso juramento e nos chamamos de irmãos. Sei que não posso falar que temos duas áreas de Wernicke em oposição a uma área de Broca (se isso fosse verdade, seria uma ironia artística gigantesca), mas chega algumas horas em que a boa e velha área de Wernicke merece ser exercitada. Ouça seus irmãos mais velhos, a sabedoria deles pode lhe valer em um futuro próximo ou distante; ouça seus irmãos mais novos, a inocência deles pode lhe dar uma lição de humildade. Não há homem nenhum que seja tão ignorante que você não possa aprender nada com ele, portanto, ao invés de se dizer o homem que sabe que sabe, seja o homem que sabe que entende. Uma hora aquele livro que você estava lendo vai ser a sua prova, vai ser seu TCC e por fim, será a sua vida, e lá você vai ter que estar muito certo que conseguiu absorver tudo aquilo que precisava.

Texto: Irmão João Pedro Bretas – estudante no curso de Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e Segundo Conselheiro do Capítulo Obreiros do Século XXI nº 057, de Teresópolis/RJ.

Imagem: Internet

Você também pode se interessar por