Irmão João Bretas, do Capítulo Obreiros do Século XXI, aborda sobre o tema: Falácia naturalista e Falácia moralista

Este texto é uma releitura do vídeo disponível no link: https://youtu.be/QfYKZNu_8tU
 Vivemos em uma sociedade muito artificial. Eu sei, é uma frase bastante clichê que costuma querer expressar alguma crítica social ou reflexão filosófica, mas não é disso que estou falando. Digo que vivemos em uma sociedade tão tecnologicamente avançada que é muito fácil desavisadamente não saber diferenciar o que é natural do que é artifício humano.
 A moralidade é uma construção do homem, e isso é fato. Existe uma pluralidade de sociedades humanas com uma pluralidade ainda maior de códigos morais. Talvez seja natural a ascenção da moral nos homens, mas os conteúdos da moral não são naturais. São convenções históricas fundadas em meio a dogmas e pressupostos que brotam em uma determinada sociedade de maneira artificial. As coisas que são naturais não surgem desta forma. A natureza não é um artifício, mas um estado que se mantém independente da ação humana. Rochas seriam rochas ainda que os homens não existissem, mas os castelos construídos com essas pedras só existem por artifício humano.
 Se você leu o título do texto, provavelmente está se perguntando o que são essas falácias, e o que elas têm a ver com tudo que escrevi até agora. Para começar com um exemplo, vamos tocar em um assunto que proporciona muitas falácias moralistas: a violência. Se eu te perguntar se a violência é algo extremamente, absolutamente e quase que exclusivamente natural, qual seria sua reação? Talvez você me achasse um louco, mas o fato é que a violência é sim natural. Toda criança é uma máquina de violência, e em quase todas as espécies animais no planeta, o comportamento violento é encontrada em algum grau. É necessário um código moral com dogmas e pressupostos para que uma sociedade decida que a violência não é uma atitude aceitável. Assim o artifício humano se funda para inibir a natureza. Você, que me disse que não é natural a violência, está cometendo uma falácia moralista.
 A falácia naturalista dita que a ética, a moral e outros constructos humanos não deveriam ameaçar aquilo que é natural. Em suma, diz que tudo aquilo que é natural, deve ser mantido. Essa falácia pode ser levada a pontos extremos, como por exemplo: defender o uso de psicotrópicos naturais; se opor ao uso de medicamentos e da medicina científica para tratamento de doenças; estimular atos libidinosos etc. Enfim, cair na falácia naturalista de que tudo que é natural é preferível sobre o que é artificial pode ser extremamente maléfico para a manutenção da saúde individual e social.
 A relação que se deve ter entre a moralidade e a naturalidade é a de conclusões. Dogmas e pressupostos não são suficientes para construir um código moral que se sustente em uma dialética. Toda construção moral é uma forma de separar as coisas naturais que queremos que se mantenham daquelas que queremos eliminadas. A própria fundação da moral surge como uma forma de transgredir a falácia naturalista, assim como aquilo que não é previsto nesses códigos transgride a falácia moralista. Por exemplo: a reprodução é algo natural, mas o máximo que um código moral pode fazer é restringir o acesso a ela, mas nunca eliminar por completo, por se tratar de uma ação não só natural como necessária. A violência é natural e moralmente reprovável. Contudo como forma de defesa é naturalmente aceitável. As conclusões devem ser um balanço do mundo moral e do mundo natural, de forma a manter uma posição não só realista como auto-sustentável em qualquer debate lógico.

Texto: Irmão João Pedro Bretas – estudante no curso de Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e Segundo Conselheiro do Capítulo Obreiros do Século XXI nº 057, de Teresópolis/RJ.

Imagem cedida para divulgação

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