História dos Cavaleiros Templários – O Ritual de Investidura do Cavaleiro – Tio Augusto Leandro Rocha da Silveira

Hoje falaremos de um tema bastante controverso no meio acadêmico, principalmente, pelo fato de alguns historiadores não confirmarem a existência do chamado ritual de adoubement, ou adubamento em português. Preferimos, manter o nome no original francês por questões óbvias de dicção.

Ainda que alguns historiadores tentem minar a tradição milenar deste ritual tão marcante na vida do cavaleiro, nomes consagrados como Jean Flori, Gérard de Sorval e Ramon Llull, entre outros, dão conta da realização inequívoca de tal ato solene, alguns com mais influência religiosa, outros menos, mas, sem dúvidas concordam em sua existência, opinião que compartilhamos também, por diversos fatores que trataremos abaixo em nosso texto.

Importante esclarecer ao nosso leitor, que o ofício de cavalaria, pertencente ao tripé da sociedade feudal, composta por oratores (clérigos), laboratores (trabalhadores, ou seja, agricultores, artesãos, etc), e, os bellatores (guerreiros dedicados às questões bélicas), era considerado uma “profissão” para poucos, dado seu elevado custo, seja com cavalos, seja com material bélico, como armadura, espada, etc. Sendo relegada à nobreza.

Além disso, como o próprio nome sugere, um cavaleiro ou miles, palavra singular em latim, no plural milites, originou a palavra militia ou milicia, para muitos, como Ramon Llull significa metaforicamente o melhor homem entre mil, conforme assevera em seu Livro da Ordem de Cavalaria: “No começo, como veio ao mundo menosprezo de justiça devido à mingua de caridade, conveio pelo temor a justiça retornasse à sua honra. E por isso, de todo o povo foram divididos em grupos de mil e de cada mil foi escolhido e eleito um homem, mais amável, mais sábio, mais leal e mais forte, e com mais nobre coragem, com mais ensinamentos e de bons modos que todos os outros.”

Conforme vimos acima, o ofício cavalheiresco era muito importante na sociedade medieval, ensejando assim, uma iniciação dentro de certos ritos baseados em sociedades iniciáticas antigas, como por exemplo a egípcia.

A iniciação era dogmática e possuia várias etapas a serem concluídas em vários dias, conforme explica Gérard de Sorval: “Essa cerimônia compreende três aspectos: a preparação, a colée e o armamento. Notemos que a palavra adouber significa ao mesmo tempo adotar e restaurar, o que implica a noção de uma eleição no interior de uma família espiritual que tem uma virtude de reintegração”.

Portanto, podemos afirmar que a cerimônia de iniciação do cavaleiro possuía um caráter mitigado entre o espiritual e o material.

Assim sendo, ainda que com algumas variações, o ritual abarca as seguintes ações por parte do cavaleiro:

Os preparativos iniciam-se no dia anterior, onde o candidato toma um banho que tem função de purificar seus corpo e alma, após, coloca uma túnica branca, que representa a pureza de espírito;

À noite ele vai à capela e passa a noite rezando com a ajuda de seus pares, na chamada vigília das armas;

Pela manhã, ele confessa, comunica, vai à missa, ouve o sermão, e, na presença de todos, ele se aproxima do altar com a espada pendurada no pescoço, diante de um sacerdote, se ajoelhando diante de seu senhor ou do bispo que lhes perguntam: “Por que motivo você deseja para entrar no cavalheirismo, se você busca riquezas ou honrarias, você não é digno disso! “ ;

O jovem então coloca a mão no evangelho e faz o juramento dos cavaleiros em voz alta; Depois disso, os pajens o ajudam a colocar sua roupa: cota de malha, couraça, braçadeiras e esporas de ouro (a investidura das armas), e então ele cinge sua espada; e, em ato contínuo, ajoelha-se para receber o colée : o senhor lhe dá três golpes do chacoalhar da sua espada na bochecha, ou a palma da mão na nuca, dizendo: “Em nome de Deus, São Miguel e São Jorge Eu faço de você um cavaleiro, seja valente, leal e generoso.”

Evidentemente, nem todas as iniciações seguiam à risca este ritual, mas, difícil excluí-lo dos iniciados na Ordem do Templo, que como já falamos, possuíam um regramento extremamente rígido e altamente religioso.

Abaixo, segue um relato de Geoffroi Plantagenet, Due d’Anjou, que foi armado cavaleiro no ano de 1127 d.C.:

“A primeira cerimônia foi um banho onde se colocou o aspirante, significando a purificação moral. Ao sair do banho, vestiu uma túnica branca, um distintivo de pureza, um manto vermelho, uma marca do que ele estava destinado a derramar seu sangue por sua fé e seu dever e um collant preto, uma lembrança da morte que o esperava, como todos os homens. Purificado e vestido, ele observou um jejum rigoroso de vinte e quatro horas; À noite, ele entrou na igreja e passou a noite em oração, na manhã seguinte, ele confessou, recebeu a comunhão, assistiu à missa e ouviu um sermão sobre os deveres de cavalheirismo, e então, avançou em direção ao altar, a espada do cavaleiro pendurada em seu pescoço; o padre a desembainha e a devolve depois de abençoá-la; o jovem guerreiro então se ajoelhava diante do lorde que deveria conferir seu título; recitando para ele um pedido: “Se você reza para que, a meu serviço, eu esteja armado e faça cavaleiro”, ele declarou o juramento para permanecer fiel à religião e à honra; o senhor deu-lhe um abraço, isto é, três tiros da espada no ombro ou na nuca, às vezes um leve golpe da mão sobre a cabeça e lhe disse uma espécie de sermão. Então “Trazemos o cavalo, trazemos as armas, colocamos uma armadura incomparável, formada de pontos duplos que nem a lança nem o dardo podiam perfurar; também é feito de sapatos de ferro feitos do mesmo tipo com pontos duplos; esporas de ouro estão presas a seus pés; no seu pescoço pendura seu escudo, no qual estão representados dois filhotes de leão de ouro; em sua cabeça, um capacete é colocado, no qual as pedras preciosas brilham, ou lhe dá uma lança de cinzas na extremidade da qual é um ferro de Poitiers; finalmente, uma espada do tesouro do rei. ” 

 O referido tema, como demonstramos acima é objeto de certa controvérsia entre os historiadores, mas, acreditamos, dada a natureza da Ordem do Templo, de uma sociedade iniciática secreta e religiosa, que o adoubement era uma realidade, conforme muito bem assevera Gérard de Sorval, autor do livro A Iniciação dos Cavaleiros e a Iniciação dos Reis na Cristandade Medieval, editado em português pela Polar Editorial, o qual indicamos desde já para o leitor que deseja aprofundar seu conhecimento em cavalaria.

E para concluir, deixaremos a seguinte questão: Quais historiadores admitem a existência do adoubement  e quais refutam a sua existência? Por que?

ADVOGADO ESPECIALISTA EM RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA   
LICENCIADO EM FILOSOFIA 
MEMBRO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIA RAIMUNDO LÚLIO “RAMON LLULL” – IBFCRL
MEMBRO DA SOCIÉTÉ INTERNATIONALE POUR L´ÉTUDE DE LA PHILOSOPHIE MÉDIÉVALE – SIEPM
MIEMBRO DE LA SOCIEDAD DE FILOSOFÍA MEDIEVAL – SOFIME ESPAÑA
MEMBRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS CLÁSSICOS – SBEC
MEMBRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA FILOSOFIA MEDIEVAL – SBEFM
Foto: Internet

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